quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Uns e os outros


Ando sem tempo, mas, em boa verdade, ando também com falta de vontade de escrever por aqui. Não tem a ver com o blogue, claro. Tem a ver com as circunstâncias. Mesmo assim, e sem saber quando volto, há uma breves coisas que quero partilhar convosco.

Em primeiro lugar, gostaria de relembrar que tenho sido uma voz crítica ao actual poder municipal. Os que detêm o poder autárquico sabem-nos e vocês também. Tenho criticado as coisas que acho que estão a ser mal feitas, e a louvar as coisas que acho que estão a ser bem conduzidas. Não é o facto de militar no mesmo partido da actual maioria que me leva a perder o sentido crítico.

Por causa dessa minha atitude, tenho sido incompreendido por quem gere o poder autárquico. Há quem, conhecendo-me, perceba precisamente o sentido das minhas críticas; e há quem, conhecendo-me mal, ache que elas se devem ao facto de lhes invejar os cargos. Esses nunca perceberam nada de nada. Nunca perceberam que as críticas, mesmo quando eram ácidas, eram bem intencionadas. Nunca perceberam que se tivessem sabido ouvir – e se as ouvissem sem más intenções – talvez hoje não estivessem tão fragilizados como estão, com tendência para piorar.
Mas não. Obcecados pelos fantasmas que eles criaram esqueceram que os verdadeiros adversários andavam por aí, silenciosos, a urdir pela calada da noite. Agora vão ter que se haver com eles. Eu, por mim, fico bem, como sempre.

Garantem os que agora querem ditar as regras no PSD – dando a cara, ou nem tanto – que os seus autarcas até podem perder a câmara por causa da ostentação, do despesismo, das festas, dos carros, dos “parasitas” que rodeiam a Câmara. Aí é verdade. O dinheiro teria sido mais bem aplicado noutras coisas. Mas há uma coisa que me perturba: onde estavam estas mesmas vozes, no anterior regime, quando (alegadamente) tanto dinheiro desapareceu misteriosamente? E onde estavam essas vozes quando se apuravam favorecimentos de alguns em prejuízo de muitos? E onde estavam essas vozes quando os autarcas do anterior regime eram apanhados em irregularidades? E onde estavam essas vozes quando os actos dos actores do anterior regime começaram a ser escrutinados pelos tribunais? Alguém os ouviu? Não, ninguém os ouviu. Andavam calados como ratos. Recordo-me, até, que o actual líder do PSD local – ou o irmão, não sei bem, mas tanto vale – disse um dia em entrevista que se Ferreira Torres estava a ser acusado de irregularidades, devia ter uma boa justificação para o assunto. Lapidar! Esclarecedor! E terão eles legitimidade para criticar os tais “parasitas” que, segundo eles, consomem a Câmara? Não, não têm. Pela simples razão que, no anterior regime, sempre que puderam, lá estiveram. E sempre que acharam que poderiam chegar lá por outras vias, tentaram. O que lhes custa não é que haja “parasitas” na Câmara – o que lhes custa a não serem eles a parasitar.

Insisto: há muitas coisas com que não concordo na actuação da actual maioria na Câmara. Disse-o muitas vezes, na tentativa de manter a pressão alta para que as coisas corressem bem. Mas não aceito que a única diferença que existe entre o actual regime e o anterior é que aquele dava dinheiro ao futebol e este o gasta com festas. É injusto. É falso. Entre muitas outras, há uma diferença de estrutura: hoje, no Marco, vive-se em democracia, há um poder local educado, que não envergonha. Antes, não era assim. E isso basta para optar. Mas se acharem que eu estou enganado, pois bem, façam como quiserem. Afinal, eu até nem vivo no Marco.
.

1 comentário:

António Santana disse...

Caro Coutinho Ribeiro,
Por coincidência no mesmo dia em que publicou este post também eu, no Marcohoje, escrevia sobre o tema. Não sei a que hora escreveu o seu post, mas só hoje ( 26.01 )o li. Não fui tão contundente mas concordo plenamente consigo. Fiquei satisfeito por ver que não vamos em modas.