Uma ou duas ideias sobre as tensões

Pressinto, nas entrelinhas do que leio por aqui, que anda no ar uma certa crispação em Soalhães entre as pessoas mais ligadas à política e à actividade associativa. É bom que haja, numa comunidade, pontos de vista diferentes sobre os problemas, que essas diferenças se debatam, que as pessoas tenha projectos e se batam por eles, que se disponibilizem para irem a eleições, que lutem por vencer. Tudo isto é bom. E é a democracia a funcionar. Umas vezes ganham uns, outras vezem ganham outros. Por isso, é também bom que quem ganha saiba ganhar e que quem perde saiba perder. Porque também só assim a democracia funciona.

Sempre tive para mim que na luta política não devemos encarar os outros como inimigos. São apenas adversários. São pessoas que pensam de forma diferente e têm todo o direito a isso até porque, muitas vezes, são eles quem têm razão e não nós. Não foi fácil pensar assim nos anos subsequentes ao 25 de Abril, mas hoje, com a democracia estabilizada, tem mesmo que ser assim. Um ponto de vista politicamente diferente é apenas isso - não pode, nem deve, ser transportado para o plano pessoal. As ideias dos outros com as quais não concordamos, devem ser combatidas com as ideias em que acreditamos. E esse combate deve ser feito de forma leal. Com coragem, com determinação, mas sempre com lealdade.

Encarar as coisa de outra forma, significa a desvirtuação da política. A política é uma forma de chegar ao poder. Legítima. Mas nem a política nem o poder devem ser fins em si mesmos - são apenas meios. Meios para se lutar por um modelo de sociedade, por um plano de desenvolvimento, por uma ideia de comunidade. O bem-estar da comunidade deve ser mais importante do que as pequenas vaidades pessoais.

Perdoem-me o tom professoral. Mas é assim que encaro a participação na vida da polis e gostaria que fosse assim para muitos. Que muitos vissem Soalhães como um projecto e não como uma forma de poder. Só assim Soalhães pode ter futuro. Por isso, meus caros, divirjam, lutem, debatam, mas unam-se no essencial. E nunca percam de vista que os outros também podem ter razão.