Politicamente incorrecto, eu sei, mas o mundo pula e avança
Não gosto que pensem que fujo às questões, mesmo quando sobre elas tenho de adoptar uma atitude politicamente incorrecta. Vem tudo isto a propósito do resultado da carta educativa para Soalhães. Foi-se a votos. Eu votei. E votei no sentido de que a solução encontrada é razoável. Oxalá se cumpra o que está decidido.
Sobre o assunto, há várias atitudes.
Se eu fosse presidente da Junta, bater-me-ia com unhas e dentes para que houvesse uma 'Secundária' em Soalhães. E, se não conseguisse, bater-me-ia para que Soalhães tivesse contrapartidas. Parece que foi isso o que aconteceu. Oxalá, agora, que as contrapartidas se cumpram.
Ainda bem que não sou presidente da Junta de Soalhães. Ainda bem que não prometi nada em campanhas eleitorais sobre o assunto. Ainda bem que tenho uma visão mais alargada do concelho. Ainda bem que tenho uma concepção mais alargada da vida.
Uma 'Secundária' em Soalhães seria boa para Soalhães. Admito que sim. Mas seria boa para os adolescentes de Soalhães? E seria bom para o concelho? E seria bom para o sistema nacional de ensino?
Duvido.
Se eu tivesse - hoje - a idade dos adolescentes de Soalhães, não quereria uma 'Secundária' em Soalhães. Como não tive, quando fui adolescente. Nem quis. Preferi fazer a pé, muitas vezes, o trajecto Soalhães-Marco-Soalhães, do que a clausura de estar em Soalhães. Ir para o Marco, naquela altura, abria-me horizontes, os horizontes que não tinha se tivesse que ficar em Soalhães.
Há uma altura da vida, em que temos de aprender a viver um tempo de mais liberdade. E esse era o tempo. Presumo que os meus pais pensassem de forma diferente. Mas é mesmo isso o conflito de gerações. O conflito que faz avançar o mundo.
Faria algum sentido uma 'Secundária' em Soalhães? Dava jeito. Como dava jeito se fosse em Tabuado. Ou em Rio de Galinhas. Ou em Paredes de Viadores. Ou em S. João da Folhada. Por que razão os estudantes das freguesias vizinhas haveriam de preferir ir estudar para Soalhães, em vez de irem para a cidade? E por que razão seria racional uma 'Secundária' numa freguesia periférica, como é a nossa?
Dirá o meu amigo José Carlos Pereira que essa seria uma forma de potenciar Soalhães. De combater a desertificação. É uma boa perspectiva. Mas não é a melhor. Não podemos pensar que a desertificação se combate artificialmente (há coisas em que estou completamente de acordo com o governo de Sócrates). Uma 'Secundária' em Soalhães ajudaria a combater a desertificação de Soalhães? Talvez. E a desertificação das freguesias limítrofes, também? Não me parece.
Soalhães está a quantos minutos da cidade? Cinco? Dez? O que Soalhães precisa é de transportes rápidos para a cidade, ali tão perto. E o combate a desertificação terá de ser feito de outra forma: com a imaginação dos que ali vivem e dos que gostam de Soalhães. Tornando Soalhães num sítio tão atractivo e pujante que justifique uma 'Secundária' sem ser por favor.
Não é nova esta minha perspectiva. Há meses, numa reunião do Conselho Consultivo do PSD-Marco, transmiti-a. Expliquei a minha ideia de progresso e de desenvolvimento. Não pedi segredo. Resumindo: eu queria uma grande 'Campus' escolar no perímetro da cidade (para além daqueles que já existem no concelho). Um sítio onde houvesse todas as condições para um ensino de qualidade. Uma estrutura modelo, onde não houvesse lugar à luta de 'capelas'. Claro que ninguém me ligou. Era um projecto muito arrojado, eu sei, mesmo quando continuo a sentir que é viável. O problema é que ninguém descola das 'capelas'...
9 comentários:
Caro CR, se pudesse votar, votaria contra a referida carta educativa.
Não por uma questão de 'capelas' vs. bem comum... Não, não seria por isso (nesse ponto partilho largamente com a sua posição). Votaria contra pelas falsas promessas feitas em campanha... Em campanha ouvi, sim ninguém me contou, oa actuais titulares do poder autárquico afirmar que com as respectivas vitórias a 'escola' em Soalhães seria uma realidade! Agora podem alegar que não prometeram nada, que a 'semântica' utilizada é 'própria' de campanha eleitoral e até que foram mal interpretados, mas a história, essa é irrefutável. Cada um que assuma as suas responsabilidades.
O centro escolar com diversas valências e um pavilhão gimnodesportivo que tenha condições para ser usado pela população, não deixa de ser um bom prémio de consolação.. admito que sim.. mas não deixa de ser isso, um bom prémio de consolação (se for cumprido na integra, claro!)...
NP
Ah! Meu caro, você 'politicanmente correcto'?! Isso não teria piada nenhuma! Continue assim a 'correr por fora'!
Cumprimentos
NP
Pois, sobre a parte das promessas eleitorais não me debrucei. Se assim é, é mau. E é assim que se descredibiliza a política.
De qualquer modo gostaria de salientar que Soalhães, em 2003 ou 2004 só não teve uma secundária porque o CDS... não quis. Era uma escola privada mas subsidiada pelo Estado, pelo que o preço de utilização era o mesmo.
Eu próprio indiquei ao executivo de então uma pessoa que estava pronta para construir a escola. Só que como tinha sido eu a promover a coisa, arranjaram um trinta e um que estragou tudo. O Norberto Soares lembrar-se-á, certamente.
Meu caro,
Neste caso o CDS que dirigiu os destinos do Marco e de Soalhães durante muitos anos não fica ilibado em nada... Em minha opinião, muito pelo contrário! Aqui não há 'vacas sagradas'... Já agora, agradeço ao 'camarada' e amigo João Monteiro Lima (PCP) que foi o único a manter a sua posição até ao fim: escola em soalhães... Obrigado pela 'teimosia', fica o gesto e a vontade.
NP
Mais uma vez remeto para o que está registado nas actas da AM sobre as minhas posições nesta matéria. Aliás, antecipei esta discussão com uma intervenção na AM de Fevereiro, que decorreu em Vila Boa do Bispo, quando já constava nessa altura que a EB 2,3 em Soalhães podia "cair".
Não concordo com a tese do Coutinho Ribeiro (ou Quim Manel, cá entre nós) e já discutimos os dois sobre isto. Não se pode comparar o tempo de hoje com o de há trinta anos.
Quanto a promessas, concordo em absoluto com as críticas de Nuno Pinto. Por isso, não poderia nunca votar favoravelmente esta Carta Educativa. Recordo até que o PS marcoense, sob a liderança de Luís Almeida, chegou a levar a Soalhães o então líder do partido, Ferro Rodrigues, que assumiu a defesa pública da escola.
No que diz respeito à escola que o CDS poderia ter aprovado, nunca ela esteve próximo de concretizar-se, como já demonstrei na AM com a resposta da ministra da Educação a um requerimento do então deputado socialista José Luís Carneiro.
Caro José Carlos Pereira,
Diz no seu comentário, que o PS/ Marco levou a Soalhães o então líder Ferro Rodrigues, e que este "assumiu a defesa pública da escola". Pena foi que sempre que esteve (está) no governo, na atribuição de verbas no PIDDAC, o PS vote contra a atribuição de tais verbas para a construção da escola na freguesia de Soalhães. E que quando está na oposição já concorde com a atribuição de verbas para a escola de Soalhães. Paciência ...
Concordo, com JCP, em relação á tese de CR.
Volto a dizer que não tenho qualquer dúvida sobre a posição do JCP sobre a Carta Educativa
Nuno, chamaste "teimosia", chamaria outra coisa, mas tudo bem.
Abraços a todos
João,
A 'teimosia' de que falo é aquela que vale sempre a pena, é a 'teimosia' das convicções, sem desvios de conveniência.
Parabéns por essa tua 'teimosia'...
Abraço
NP
Caro João Lima, é verdade que os partidos não se saem bem de alguns avanços e recuos que parecem inexplicáveis. Valha a verdade que, no caso concreto da EB 2,3 de Soalhães, quem a retirou do PIDDAC (Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central) de 2004 foi o governo PSD/CDS-PP, curiosamente quando o executivo municipal marcoense era de maioria absoluta CDS-PP. Nessa altura, o PS e a CDU tentaram reintroduzir a EB 2,3 de Soalhães, mas a maioria não o permitiu. No ano seguinte, PSD e CDS-PP intensificaram a trapalhada e inscreveram no PIDDAC de 2005 uma verba irrisória de 25.000 euros, mas para uma EB 1,2!
Infelizmente, num novo quadro de austeridade e de contenção da despesa pública, o actual governo PS não pôde cumprir a promessa de Ferro Rodrigues e deixou de incluir a escola de Soalhães entre as suas prioridades. Quem está no poder tem de fazer as suas opções em cada momento e parece claro que as prioridades dos actuais responsáveis da DREN, que influenciam decisivamente as opções do ministério, não passam por construir uma escola em Soalhães. Por isso, sempre defendi que as opções estratégicas e políticas subjacentes à elaboração da carta educativa não podiam ficar reféns de interesses e corporações. Recorda-se?
Caro José Carlos Pereira,
Recordo-me das suas intervenções na AM e concordo quando diz que "as opções estratégicas e políticas subjacentes à elaboração da carta educativa não podem ficar reféns de interesses e corporações". Mas no caso da CE do Marco parece que esse seu receio foi o que se veio a verificar. As duvidas e receios permanecerão.
Numa versão da CE estava programada uma EBI para Vila Boa do Bispo, e na versão seguinte passou para Ariz, o que mudou para tal ter acontecido?
Mas valeu a pena a denúncia que foi feita à versão votada em Abril, veja-se a situação de S. Nicolau, e podemos dizer que valeu a pena estar contra a CE. Ou veja-se Soalhães, que não tendo uma EBI, terá um centro educativo e um pavilhão. Seguramente Soalhães esperaria (porque merece) mais, mas valeu a pena a oposição da Junta, do José Carlos Pereira, de Norberto Soares, e também da CDU, pois se nos tivessemos conformado com aquela versão, provavelmente Soalhães não teria nem pavilhão nem Centro Educativo. Abraço
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