segunda-feira, 10 de março de 2008

Lendas da minha terra! Penedo do meio-dia – Outra versão!

“Forte como um roble, alma boa e simples, dono de coirelas que amanhava com cuidados inexcedíveis, todos os dias, mal o sol nascia, se encaminhava para as suas terras. Lançando sementes, desventrando o solo com a pesada enxada, manejando a podoa, arranjando os camalhões das leiras ou consagrando-se a outros louvores, assim passava a manha e tarde e, quando regressava a casa, ia sempre de consciência tranquila. Serenamente fazia a longa jornada e nada parecia perturbá-lo.
Na sua Freguesia, a de Soalhães, Marco de Canaveses, apontavam-no sempre como um homem que era exemplo de vida e de trabalho. No seu lar brilhavam a toda a hora as claridades da paz e da amizade que dedicava aos seus.
Uma manhã radiosa, caminhando para a sua fazenda, passou pelo caminho para Eiró, olhando o chamando PENEDO DO MEIO-DIA, que sempre provocava as suas atenções. Parou um pouco, pois alguma coisa de estranho via na sua frente. É que o penedo estava aberto e dentro dele uma formosa mulher, deslumbrantemente vestida de ouro. Ficou atónito. O assombro, porém, decidido e corajoso como era, não impediu que se aproximasse da fraga para ainda melhor ver o que ocorria. Então, a voz da mulher fez-se ouvir, perguntando-lhe para onde se dirigia. Respondeu que ia regar as sua terras com tantas outras vezes fazia.
- Pois vai…segue o teu caminho. Toma este pão de quatro cantos. Guarda-o, arrecada-o por forma que ninguém o veja e, daqui a um ano, torna a este lugar. Dar-te-ei a felicidade.
Na volta a casa, o lavrador ia pensativo, mas de certo modo tranquilo e com o coração cheio de esperanças. Depois, meteu o pão numa arca, guardando a chave que não mais largou para que ninguém a abrisse. Os dias foram correndo e a mulher, vendo que o marido nem por um só momento largava a chave, passou a andar um tanto preocupada e desconfiada e, ao mesmo tempo dominada pelo curiosidade.
Aproveitando, certa tarde, uma maior ausência do homem e apertada ainda mais pela curiosidade, tomou-se de grande ânimo e arrombou a arca. Com espanto viu que o marido ali guardava apenas um pão. Pegou-lhe e, com uma faca, cortou-o pelos cantos. Cheia de terror viu que o sangue manava do pão. As lágrimas afloravam aos seus olhos e, quando o marido voltou, contou-lhe o que se passava e este disse-lhe: - Destruíste a nossa Felicidade!
Decorrido um ano sobre a manhã em que estivera parado junto ao PENEDO DO MEIO-DIA, para ali se dirigiu. A moura que lhe falou disse-lhe então: - Não tiveste culpa do sucedido, mas isso não obsta a que fiques sem as riquezas prometidas que te dariam a felicidade.
Esse pão era uma linda égua branca em que eu havia de sair daqui, findo o meu encanto. Tua mulher, cortando-o partiu-lhe as pernas e eu não mais poderei quebrar este encantamento.”
Diz o povo que, na manhã de S. João, ao bater as 8 horas quem lá for e encostar o ouvido num certo sítio do penedo ouvirá a moura a chorar.

Publicado num Jornal do ano de 1972

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