quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Médico de Família, uma espécie em vias de extinção?

A par do Lince Ibérico, praticamente extinto em solo português, uma das espécies mais ameaçadas, correndo mesmo sérios riscos de ser varrida definitivamente do mapa, é o médico de família do Sistema Nacional de Saúde SNS).
A extinção desta importante espécie, ao contrário do que se poderia pensar, não se está a verificar simultaneamente em todo o território. As zonas rurais do interior do país, em contraponto com o litoral e a imediação das grandes cidades, são os locais mais afectados. A degradação das condições do habitat (Centros de Saúde com instalações degradadas e parcamente equipadas, condições pouco aliciantes que motivem os elementos desta espécie a fazerem o seu ninho em zonas distantes dos grandes aglomerados populacionais, etc), o preconceito, muito português, de que médico de família é sinónimo de médico de segunda categoria, o aumento exponencial dos seus predadores naturais (leia-se clínicas e hospitais privados), a escassez de politicas de apoio, incentivo e motivação capazes de proteger esta espécie, são algumas das causas para o seu declínio.
Pelo que leio aqui e aqui, Soalhães encontra-se inserida na área de extinção de uma espécie de importância capital para a sobrevivência das demais.
Na verdade, os habitantes de Soalhães não estão sozinhos. Só no distrito do Porto 200 mil utentes não têm médico de família. No entanto, a este número, já de si assustador, teremos de somar os milhares de utentes que, mesmo tendo médico de família atribuído, não conseguem aceder a este em virtude de o mesmo ter abandonado o seu posto, se encontrar de licença, de baixa médica ou por outra qualquer razão.
São milhares, aqueles que, de forma involuntária, engrossam a procissão dos excluídos do SNS. Um SNS que, ao não conseguir motivar, cativar e manter os seus médicos de família, pode caminhar para o colapso. Pois, como se sabe, os Centros de Saúde representam a base da pirâmide deste.
No passado dia 31 de Agosto, o ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia, e a sua homóloga espanhola, Cristina Narbona, presidiram à sessão pública de assinatura do acordo de cooperação entre Portugal e Espanha para o programa de reprodução em cativeiro do Lince Ibérico, com vista ao futuro repovoamento do território português. Será que um acordo deste tipo, entre os ministros da Saúde dos dois países, não poderia ser uma solução viável para o repovoamento das serranias portuguesas com médicos responsáveis pelos serviços de saúde primários?

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro GR,

Não podia estar mais de acordo com a tua análise...