sábado, 29 de setembro de 2007

Fez ontem em Nova Iorque 104 anos emigrante que ainda lê sem óculos

Rui Azevedo, leitor do TMQ e Soalhense que, salvo erro, se encontra emigrado nos Estados Unidos da América, fez-nos chegar por e-mail uma história de um Marcoense, muito especial, emigrado nos EUA. O texto é longo mas a história de vida deste homem vale a leitura. Aqui fica:

«Duas vezes por semana, chega-lhe o bissemanário LUSO-AMERICANO à casa de repouso em Riverdale, às portas de Manhattan, onde vive. Mas não é só o que Albano Vieira lê, aos 104 anos de idade: também recebe o diário ‘New York Post’ e tem à mesa de cabeceira uma obra litúrgica.

"Sabe", diz, na entrevista que concede a este jornal, "poder ainda ler sem óculos e andar só com a ajuda de um carrinho de mão, são realmente duas bênçãos que recebo de Deus".

Apesar de ter um aparelho televisor pequeno em frente à cama (que estava desligado quando o LA o foi entrevistar), fez questão de dizer: "A televisão é coisa que não desperta a minha atenção...".

Completa a rotina do quotidiano com visitas à capela da casa de repouso. E confessa ter com Deus um relacionamento muito especial... "É a minha maior riqueza, a fé em Deus" - reconhece.

Ontem, quinta-feira, dia 27 de Setembro, o emigrante de Sande, Marco de Canaveses, viu completar-se mais um ciclo de 365 dias - no total de quase 38 mil que já testemunhou à face da terra.

O emigrante Albano Vieira deixou Portugal e a ocupação de lavrador a 15 de Novembro de 1927, rumo à América. Chegou ao Novo Mundo de navio. Na zona metropolitana de Nova Iorque, onde se radicou, foi porteiro e operário da construção civil. A 13 de Setembro de 1934, torna-se cidadão americano e é já nessa condição que no ano seguinte regressa a Portugal, onde se casa com o amor da sua vida - Laura.

Ao regressar à sua pátria de acolhimento, a América, já com a esposa e o filho António, Albano Vieira volta a radicar-se em Nova Iorque, onde em 1940 arranja emprego como encarregado de um edifício com 69 famílias, no número 200 da Haven Avenue, junto à George Washington Bridge.

O casal teve ainda três filhos na emigração - Maria Helena, Mary (falecida em 1998) e Joseph. O único rebento dos Vieira nascido em Portugal, António, entrou para a Ordem Franciscana, tornou-se o Irmão Rosário e passa hoje os seus dias numa casa de repouso em New Jersey.

"Vivemos sempre segundo as boas velhas tradições portuguesas", afirma Albano Vieira, que diz ter saudades do "arroz de chouriço que a minha mulher fazia". Faz uma pausa e acrescenta, referindo-se a Laura Vieira, que faleceu há pouco mais de duas décadas: "Era como um anjo para mim!".

A filha Maria Helena Allen, de 63 anos, explica que ver chegar o pai a esta idade é algo que lhe provoca um misto de emoções. "É maravilhoso vê-lo tão bem aos 104 anos de idade, mas, por outro lado, a família cresce e dispersa-se", diz, falando ao telefone da Flórida, onde agora vive. "De certa forma, acaba por estar um tanto entregue à solidão, muito embora tenha muitas actividades para cumprir na casa de repouso, e nós estamos constantemente em contacto com o nosso pai".

O emigrante não sabe dizer qual o segredo da longevidade. Viveu sempre uma existência honrada, sem espezinhar ninguém - garante. Uma profissional de saúde da casa de repouso disse, de forma informal, ao LA, que Vieira não tem problemas de saúde de maior. "Nunca pensei que Deus Nosso Senhor me conservasse tanto tempo... Estou admirado!", diz.

Um homem recto, que ajudou sempre o semelhante e sobretudo os conterrâneos. Uma história que os seus 11 netos, 25 bisnetos e 1 trineto poderão contar com orgulho. E, se tiverem herdado o ADN do avô, irão fazê-lo por muito tempo..."

Será que o Marco de Canaveses tem pessoas assim?»

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