sexta-feira, 6 de julho de 2007

Será apenas preconceito?

Depois de ler o desabafo do Nuno, tentei escrever algumas linhas para posterior publicação neste espaço. Contudo, como não me ocorria nenhum assunto, embrenhei-me nos anteriores textos publicados no TMQ, na esperança de poder encontrar alguma inspiração. Ao fim de alguns minutos, ao invés de encontrar uma musa inspiradora, choquei frontalmente e de forma violenta com um penedo. A batida foi de tal ordem forte que me fez recuar alguns anos no tempo. De repente, recordei que foi a propósito do Penedo de Cuba, digno ex libris deste blog, que li a frase mais insultuosa, ultrajante e preconceituosa para com a população de Soalhães.
Na altura, devia ter uns quinze anos, estava a fazer, julgo que para um trabalho escolar, uma pesquisa bibliográfica sobre Soalhães. Com entusiasmo, devorava sequiosamente as páginas do livro “Monumentos Arqueológicos da Sociedade Martins Sarmento” de Mário Cardozo. Neste livro, a determinada altura, o autor descreve os factos que levaram à descoberta da gruta sepulcral pré-histórica, denominada “Gruta das Coriscadas” (datada do 3º milénio aC), existente na base do referido penedo. No decurso desta descrição surge a seguinte frase: “Com a terra começaram a sair ossos e por fim caveiras – umas 18. … As caveiras andaram aos trambolhões num campo, onde ele (pessoa que terá descoberto a gruta) espetara algumas na ponta de paus, e nem fragmento delas apareceu. …” Ora, é neste preciso momento, que de forma erudita e pedagógica, por certo para melhor esclarecer os seus leitores, que o nosso autor resolve fazer uma elucidativa nota de rodapé: “É de supor que esta profanação macabra, ainda hoje verificada em costume idêntico de certas tribos selvagens, só possa atribuir-se à mentalidade rude e bárbara dos habitantes dessa aldeia de Soalhães, onde não há muitos anos foi queimada viva uma pobre mulher, submetida, por meio de práticas de bruxaria, a um espantoso auto-de-fé”.

Na altura, completamente chocado, fechei o livro, o qual só hoje, e apenas na minha cabeça voltei a abrir.
Lamentavelmente, preconceitos desta índole ainda continuam vivos mas mentes de muitas pessoas. Porém, depois dos tristes acontecimentos da final da Taça do Município, alguns, com algum sentido critico perguntam: mas será isto apenas preconceito?
Cabe a todos aqueles que verdadeiramente gostam de Soalhães, a difícil missão de tentar mudar esta situação.

Nota: Acabei de descobrir aqui.(pag. 481), o texto a que faço referência neste post.

5 comentários:

Anónimo disse...

GR
Por vezes até a falta de assunto é motivo para se dizer algo!
Mais a sério: o ritmo de escrita deve ser proporcional à vontade de dizer algo... Assim mesmo.
Quanto ao resto, não será única e exclusivamente preconceito, mas na minha humilde opinião a maior parte das coisas devem-se a ele. Infelizmente na nossa terra ainda há pessoas que alimentam esse preconceito.
Cabe às novas gerações mudar o estado das coisas, mas penso que não será nesta geração, nem na seguinte ou na que se seguirá a essa, que as coisas mudarão radicalmente. O fardo ainda será carregado por muitos e muitos anos.
Infelizmente...
NP

PS: Volta mais vezes...

Célio Soares disse...

Meus caros, não acham que já é tempo de acabar com essa história gasta do famoso jogo de futebol?...

Anónimo disse...

As injustiças são para serem combatidas!
Sempre e em qualquer lugar!
NP

G.R. disse...

Caro Célio,
Este post nasceu porque, quando procurava algum assunto para escrever, encravei no site da Fundação Martins Sarmento, mais concretamente na página do livro a que faço citação. Ao voltar, depois de tantos anos, a ler aquelas palavras, senti tal desconforto que comecei a escrevinhar.
Fui rabiscando, linha a linha, sem ter a mínima noção de que rumo ou mesmo de que fim dar ao texto. Sem saber porquê, as coisas precipitaram-se para o tema que referes. Se calhar, pelo facto de o mesmo ser bastante recente e, tal como o texto referido, me ter chocado e, por certo, ter tido necessidade de fazer uma catarse sobre o assunto. Na verdade, a referencia à final da Taça do Município, não é mais do que um apêndice que, caso tu ou outro leitor o entenda, poderá ser descartado.
Depois de ler o teu comentário, bem como o teu posterior post, fiquei com a sensação de que poderia haver alguma coisa de errado com o meu texto. Por isso, agora com um distanciamento de alguns dias, voltei a fazer a leitura do mesmo. Depois dessa leitura, cheguei à conclusão de que, provavelmente, este post possa ser objecto de dúbias interpretações. Contudo, tal facto não me preocupa por aí além. Pois, caso contrário, nunca mais voltaria a publicar nenhum garatujo, nem neste, nem noutro blog.

Um abraço!

Anónimo disse...

Caro GR,
Dúbio?
Dúbios são os pensamentos que se escondem em silêncios comprometedores... Só isso...
NP